Benjamin |
No semestre passado, li um texto do Agamben, de cujo título não me recordo, que retomava “O Narrador” do W. Benjamin. Naquele momento, quando Agamben falava que a nossa sociedade carencia de "experiência", além de acusá-lo de louco, pela minha bruta falta de experiência em textos filosóficos, nada me fazia dissociar o termo do senso comum, como prática e ciência. Neste semestre, sob a enxurrada dos 70 anos da morte de Benjamin e sob o efeito alucinógeno da disciplina “Visões da Literatura a partir de Walter Benjamin Benjamin”, estou às voltas com “Experiência e Pobreza” do próprio, que, aliás, tinha larga experiência em ser pobre, no sentindo de ter um poder aquisitivo baixo.
(Ver: http://ideiasadulteradas.blogspot.com/2010/09/em-breve-defenestrando-walter-benjamin.html )
(Ver: http://ideiasadulteradas.blogspot.com/2010/09/em-breve-defenestrando-walter-benjamin.html )
Finalmente, acredito (com muito otimismo) que compreendi a que Benjamin e, posteriormente, Agamben se referiam ao falarem da nossa falta de experiência, se referiam, à prática de uma tradição que humanizava o homem: “Sabia-se exatamente o significado da experiência: ela sempre fora comunicada aos jovens. De forma concisa, com a autoridade da velhice, em provérbios; de forma prolixa, com sua loquacidade, em histórias; muitas vezes como narrativa de países longínquos, diante da lareira, contada a pais e netos”(p.114). Benjamin observou que essas ações de experiência começaram a se perder entre os anos 1914 a 1918 com a “experiência da guerra”, diante do silêncio dos que voltavam dos campos de batalha. Além desse silêncio, a "experiência estratégica da guerra" trouxe novas formas de experiência: a fome, a inflação, o desemprego e a desmoralização do ser humano. Outra “nova forma de miséria” deixada pela guerra foi também o desenvolvimento da técnica que, segundo Benjamin, irá se sobrepor ao homem: “Sim, é preferível confessar que essa pobreza de experiência não é mais privada, mas de toda a humanidade. Surge uma nova barbárie” (p.115).
No entanto, “barbárie”, por sua vez, também tem o significado fora do senso comum, adquirindo o sentindo de “impulso criativo”. Sobre isso escreve Benjamin: “o que resulta para o bárbaro dessa pobreza de experiência? Ela [a barbárie] o impulsiona a partir para frente, a começar de novo, a contentar-se com pouco, a construir com pouco, sem olhar nem para a esquerda nem para a direita” (p.116). Benjamin enumera alguns bárbaros criadores, na Física, por exemplo, Albert Einstein; na Arquitetura, Le Corbousier, Adolf Loos e Walter Gropius com a criação da Bauhaus; na Arte, os cubistas, as figuras de Paul Klee, que ele admirava bastante, além dos personagens visionários de Paul Scheerbart. Todos com um ponto em comum, alguns para o bem e outros para o mal, a inspiração na Matemática, ou seja, no racionalismo.
É interessante perceber nesses três conceitos utilizados por Benjamin de “experiência”, “pobreza” e “barbárie” sua visão romântica e nostálgica dos valores pré-capitalistas ao lamentar perda das traições orais e a tragédia do progresso para o mundo, uma influência do judaísmo, vinda de sua ligação com G. Scholem e da posição que Benjamin assumiria, a partir de então, como “judeu autoconsciente”. Por outro lado, percebi também a sensibilidade de Benjamin para além do horizonte de expectativa de sua época, ao trabalhar com o conceito de “barbárie”, quer dizer, com as implicações que o progresso nos traria, como por exemplo, a nossa automatização ou desumanização, chegando a comparar o ideal do homem contemporâneo ao camundongo Mickey com quem “a natureza e a técnica, o primitivismo e o conforto se unificam completamente e, aos olhos das pessoas, fatigadas com as complicações infinitas da vida diária e que vêem o objetivo da vida apena como o mais remoto ponto de fuga numa interminável perspectivas de meios, surge uma existência que se basta a si mesma, em cada episódio, do mais simples e mais cômodo, e na qual um automóvel não pesa mais que um chapéu de palha, e uma fruta de na árvore se arredonda como a gôndola de um balão”(p.118 e 119).
Certamente, além da presença do amigo G. Sholem há no ensaio “Experiência e Pobreza” a presença do amigo T. Adorno (ou não). Há nele também a auto-referenciarão de Bejnamin que, mais tarde irá repetir o conceito de experiência em “O Narrador”. Pode-se prever aqui também “a perda da aura”, tema desenvolvido em “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” de 1935/36.
C.
Referência: BENJAMIN, Walter. "Experiência e Pobreza" in_______. Obras Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política. p.114-119. SP: Ed. Brasiliense, 1994.
Nenhum comentário:
Postar um comentário