quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tema Benjaminiano

Benjamin

No semestre passado, li um texto do Agamben, de cujo título não me recordo, que retomava “O Narrador” do W. Benjamin. Naquele momento, quando Agamben falava que a nossa sociedade carencia de "experiência", além de acusá-lo de louco, pela minha bruta falta de experiência em textos filosóficos, nada me fazia dissociar o termo do senso comum, como prática e ciência. Neste semestre, sob a enxurrada dos 70 anos da morte de Benjamin e sob o efeito alucinógeno da disciplina “Visões da Literatura a partir de Walter Benjamin Benjamin”, estou às voltas com “Experiência e Pobreza” do próprio, que, aliás, tinha larga experiência em ser pobre, no sentindo de ter um poder aquisitivo baixo.
(Ver: http://ideiasadulteradas.blogspot.com/2010/09/em-breve-defenestrando-walter-benjamin.html )

Finalmente, acredito (com muito otimismo) que compreendi a que Benjamin e, posteriormente, Agamben se referiam ao falarem da nossa falta de experiência, se referiam, à prática de uma tradição que humanizava o homem: “Sabia-se exatamente o significado da experiência: ela sempre fora comunicada aos jovens. De forma concisa, com a autoridade da velhice, em provérbios; de forma prolixa, com sua loquacidade, em histórias; muitas vezes como narrativa de países longínquos, diante da lareira, contada a pais e netos”(p.114). Benjamin observou que essas ações de experiência começaram a se perder entre os anos 1914 a 1918 com a “experiência da guerra”, diante do silêncio dos que voltavam dos campos de batalha. Além desse silêncio, a "experiência estratégica da guerra" trouxe novas formas de experiência: a fome, a inflação, o desemprego e a desmoralização do ser humano. Outra “nova forma de miséria” deixada pela guerra foi também o desenvolvimento da técnica que, segundo Benjamin, irá se sobrepor ao homem: “Sim, é preferível confessar que essa pobreza de experiência não é mais privada, mas de toda a humanidade. Surge uma nova barbárie” (p.115).
No entanto, “barbárie”, por sua vez, também tem o significado fora do senso comum, adquirindo o sentindo de “impulso criativo”. Sobre isso escreve Benjamin: “o que resulta para o bárbaro dessa pobreza de experiência? Ela [a barbárie] o impulsiona a partir para frente, a começar de novo, a contentar-se com pouco, a construir com pouco, sem olhar nem para a esquerda nem para a direita” (p.116). Benjamin enumera alguns bárbaros criadores, na Física, por exemplo, Albert Einstein; na Arquitetura, Le Corbousier, Adolf Loos e Walter Gropius com a criação da Bauhaus; na Arte, os cubistas, as figuras de Paul Klee, que ele admirava bastante, além dos personagens visionários de Paul Scheerbart. Todos com um ponto em comum, alguns para o bem e outros para o mal, a inspiração na Matemática, ou seja, no racionalismo.

É interessante perceber nesses três conceitos utilizados por Benjamin de “experiência”, “pobreza” e “barbárie” sua visão romântica e nostálgica dos valores pré-capitalistas ao lamentar perda das traições orais e a tragédia do progresso para o mundo, uma influência do judaísmo, vinda de sua ligação com G. Scholem e da posição que Benjamin assumiria, a partir de então, como “judeu autoconsciente”. Por outro lado, percebi também a sensibilidade de Benjamin para além do horizonte de expectativa de sua época, ao trabalhar com o conceito de “barbárie”, quer dizer, com as implicações que o progresso nos traria, como por exemplo, a nossa automatização ou desumanização, chegando a comparar o ideal do homem contemporâneo ao camundongo Mickey com quem “a natureza e a técnica, o primitivismo e o conforto se unificam completamente e, aos olhos das pessoas, fatigadas com as complicações infinitas da vida diária e que vêem o objetivo da vida apena como o mais remoto ponto de fuga numa interminável perspectivas de meios, surge uma existência que se basta a si mesma, em cada episódio, do mais simples e mais cômodo, e na qual um automóvel não pesa mais que um chapéu de palha, e uma fruta de na árvore se arredonda como a gôndola de um balão”(p.118 e 119).

Certamente, além da presença do  amigo G. Sholem há no ensaio “Experiência e Pobreza” a presença do amigo T. Adorno (ou não). Há nele também a auto-referenciarão de Bejnamin que, mais tarde irá repetir o conceito de experiência em “O Narrador”. Pode-se prever aqui também “a perda da aura”, tema desenvolvido em “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” de 1935/36.
C.

Referência: BENJAMIN, Walter. "Experiência e Pobreza" in_______. Obras Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política. p.114-119. SP: Ed. Brasiliense, 1994.

Nenhum comentário: