quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Defenestrando Lila Donws

   Por volta de 2001, quando a era dos downloads atingia ferozmente o mercado da música, para o bem ou para o mal, diante dos meus olhos distraídos, encontrei na liquidação de uma loja de cd’s, de cujo nome não me lembro, mas que também deixou de existir, o álbum La Línea da mexicana Lila Donws. Na capa, Lila, de traços fortemente indígenas, olhava para o horizonte. Viam-se também os colares e a vestimenta artesanal, indígena. Pensei que seria mais uma “imitadora” da Frida Kahlo, mas na música? Frida também cantava? Todo delírio é possível quando se trada da febre da moda. Porém, na capa de trás do disco, uma dedicatória espantosa sobre a foto de um “mestiço” escalando o famoso muro que separa o México dos Estados Unidos e, embaixo, um vira-lata observando o movimento: “dedicado a todos los migrantes y a los difuntos que han muerto cruzando la línea.”

A voz de Lila é grave e triste, mesmo nas faixas mais “alegres”, quando canta na língua "maia", aliás, a língua de sua mãe, Ana Sanchéz, de origem mixteca; já o pai da cantora, chamava-se Allen Downs e era um antropólogo de origem britânica. Lila Donws deixou o estado mexicano de Oaxaca, onde nasceu, para estudar canto e antropologia nos Estados Unidos. Foi cantora de ópera, hippie, artista de rua, fez de tudo um pouco até ficar conhecida mundialmente pela participação na trilha sonora do filme Frida (2002).  C.

OBS: No dia 24 de agosto, deste ano, 2010, foi noticiado o massacre de 72 imigrantes que tentavam cruzar la línea, entre eles, quatro brasileiros. 

Nenhum comentário: