domingo, 31 de outubro de 2010

Reinado Arenas e a minha insônia


Arenas por David Levine
Reinaldo Arenas tem sido o personagem mais constante da minha insônia. De segunda pra terça ou de terça pra quarta, li A Rosa Velha, livro composto de duas novelas “A Rosa velha” (1966) e “Arturo, a estrela mais brilhante” (1971). Não há parágrafos, nem travessões, os diálogos estão embutidos no texto e o texto é um bloco acabado.  Em “A Rosa Velha”, a personagem Rosa é a matriarca de uma família de três filhos. Rosa, após a morte do marido, impunha sua dureza aos camponeses, na medida em que suas terras e seus filhos cresciam até o ano de 1959, quando o filho mais velho se junta aos guerrilheiros na Sierra Maestra. As preces de Rosa, ou da velha Rosa, eram acompanhadas por uma sombra, como a auréola dos santos, que a protegia de todos os males. No entanto, ao final da narrativa, a sombra se revela como delírio e maldição, mas é onde Rosa encontra o caminho para a libertação daquele tempo estranho que começava e para o qual ela era uma peça inútil. Já “Arturo, a estrela mais brilhante” é o desdobramento da vida de Rosa a partir de sua morte, ou seja, o destino dos filhos, no caso, o de Arturo, o filho mais novo, o seu preferido. Arturo se revela homossexual e é levado para os campos de concentração, conhecidos oficialmente, em Cuba, por UMAP (Unidade Militar de Ajuda à Produção), a fim de ser “reabilitado socialmente”.
Reinaldo conhecia muito bem o significado desses pontos da história cubana. Ele mesmo havia deixado a casa da mãe para se unir aos revolucionários e, mais tarde, ele também estaria nos campos de concentração para homossexuais. Ele conhecia, como ninguém, a amargura de viver perseguido, rechaçado e humilhado pelo regime revolucionário que ele havia ajudado a “triunfar”.
O interessante é que em setembro deste ano, o comandante Fidel, vestido no seu impecável pijama, fez a seguinte declaração ao correspondente americano da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg: “O comunismo como modelo econômico nunca funcionou no sentido de trazer prosperidade ao povo cubano". Claro que não pude deixar de pensar em Arenas e no que ele pensaria.
No entanto, Reinaldo tinha consciência de que a questão da liberdade não consistia em trocar de país, de regime político, ele mesmo dizia que quando se dá um chute no traseiro do comunismo você recebe aplausos, mas quando se dá um chute no traseiro do capitalismo, você é apenas um coitado berrando e gritando.
Porém, o que me assusta  é que por mais que a vida de Arenas tenha sido um " maravilhoso suicídio", como descreveu a amiga Ingrid González, a carta final de Arenas e, embora se trate de uma carta de despedida, ele pede para que tenhamos esperança na vida, mas não no sentido de “espera”, mas de encontro definitivo. C.



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